Folha de S. Paulo – Igor Gielow
A condenação em primeira instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou status de definidora de cenários para a eleição do ano que vem, praticamente empatando com o impacto da Lava Jato nas conversas com líderes políticos.
É consenso que a permanência ou não de Lula na urna eletrônica irá determinar que tipo de pleito ocorrerá e qual o perfil de seus candidatos, independentemente do fato de que a viabilidade de o petista ser eleito ser bastante remota no cenário atual.
O ex-presidente no páreo obrigará a construção de uma candidatura mais forte no campo conservador/governista, com retórica antipetista afiada. É isso ou arriscar ver o ex-presidente rumar ao segundo turno contra o nosso equivalente ao clã Le Pen francês, Jair Bolsonaro, com amplas chances de uma hoje improvável vitória lulista.
O tucano João Doria é hoje quem se coloca melhor nesse papel. O prefeito paulistano, contudo, joga no time do governador Geraldo Alckmin, que vem costurando sua candidatura com solidez e tem preferência na fila. Isso se conseguir unir o partido, cada dia mais fragmentado.
A questão é saber o óbvio: se o governador irá livrar-se das acusações na Lava Jato, se consegue decolar em pesquisas, se logra ser minimamente conhecido no Nordeste e, por fim, se tem a chama do antipetismo necessário.
Um aliado do tucano lembra seu desempenho na reeleição de 2014, quando São Paulo deu uma vitória esmagadora ao PSDB no pleito nacional, e o fato de que um Doria candidato a governador poderia manter esse palanque mais agressivo no maior colégio eleitoral do país -enquanto Alckmin buscaria vender outra imagem fora de suas fronteiras. Não soa fácil.
Sem Lula, contudo, o cenário é totalmente diverso. Primeiro pela lacuna à esquerda, embora a pecha de perseguido que o ex-presidente irá trombetear se impedido deverá funcionar como excelente cabo eleitoral. Mas a disputa fica mais complexa mesmo ao centro.
Sem a necessidade de uma estridência antipetista, Alckmin ganha densidade. Mas também é previsível que a antiga terceira via representada pela ex-senadora Marina Silva (com ou sem o "punch" de um Joaquim Barbosa) irá emergir com mais força, assim como talvez um outro nome no condomínio governista.
Temer, se estiver no cargo como a conjunção astral da semana parece indicar, será invariavelmente um peso para qualquer postulante -daí o balé de Alckmin para defender desembarque do PSDB após reformas, seja lá o que for isso. Mas se houver algo que se assemelhe a uma recuperação econômica mais visível, o que parece improvável, uma vaga se abre.
Esse cenário é o que mais reproduz, de saída, a barafunda do pleito de 1989. Quaisquer 15% de intenção de voto viram perspectiva de segundo turno. Os mais otimistas, como o filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, acreditam que o debate seria estimulado e o ambiente, arejado. Eu tendo a duvidar da possibilidade de discussões reais em campanhas eleitorais, mas ser pessimista é "default" nessas terras.
Seja como for, tudo isso apenas comprova que Lula segue sendo o ator político mais importante do Brasil. Desgraçadamente para o país, já que esse tipo de dependência apenas prova a infância institucional da pátria, para não entrar em considerações pessoais ou morais.
O pior é esperar o rosário de recursos que deverá atrasar a decisão de segunda instância que pode ou não tirar Lula de cena. Tudo gira em torno disso, salvo mais piruetas no roteiro da crise nossa de cada dia. Não gostaria de estar na pele dos magistrados do TRF-4 em Porto Alegre.
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