Brasil sai perdendo se Dilma cancelar viagem aos Estados Unidos em outubro, dizem especialistas

Faltando pouco mais de um mês para a visita de gala da presidente brasileira Dilma Rousseff aos Estados Unidos, a relação entre os dois países estremeceu após as denúncias de que a mandatária foi espionada pelo governo norte-americano. Ainda que a postura do Itamaraty seja a de esperar as explicações formais de Washington, dentro do ministério circula a possibilidade de cancelamento da visita. Mas caso isso ocorra, o Brasil sairá perdendo, dizem analistas.
Na história recente brasileira, a última visita de Estado do Brasil aos Estados Unidos aconteceu em 1995, com Fernando Henrique Cardoso. Dilma recebeu um convite que sequer foi conquistado por seu mentor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por isso, desistir da viagem pode custar caro para a mandatária, avalia Pedro Costa Júnior, professor de relações internacionais das Faculdades Rio Branco.
— Se ela não for, vai ser muito problemático. Não é conveniente ter algum tipo de confrontamento com os Estados Unidos, uma vez que são o principal país e, junto com a China, são nossos principais parceiros comerciais.
Segundo assessores próximos à presidente, Dilma ficou furiosa ao saber da espionagem. O País cobrou dos Estados Unidos um pedido de explicações formal, por escrito. Mas se a viagem aos EUA depender dessa resposta, o Brasil pode ficar de mãos vazias, já que as prioridades de Obama, no momento, são outras, diz Geraldo Zahran, professor de relações internacionais da PUC-SP e coordenador do Opeu (Observatório Político dos Estados Unidos).
— O nível de tensão entre as duas partes aumentou significativamente. Mas, nesse momento, os EUA não estão muito preocupados com a situação brasileira, por conta das tensões na Síria e da relação com a Rússia [por causa do asilo ao ex-consultor Edward Snowden]. Cancelar essa visita pode ser uma resposta muito dramática da Presidência brasileira.
O mal-estar entre os dois países foi alimentado nesta quinta-feira (5), quando o Planalto confirmou que cancelou a ida aos EUA, no próximo sábado (7), de uma equipe brasileira que faria os preparativos da viagem oficial da presidente. Além disso, o governo não confirma se a equipe agendará nova data para a viagem, o que reforça a ameaça de um cancelamento da visita em outubro.
Apesar dos rumores, Zahran acredita que a presidente vai cumprir a visita, e considera correto o cancelamento da comitiva.
— Não acho que ela vá chegar ao ponto de cancelar a visita de outubro, mas a sinalização de que existe esse risco, por meio da viagem da comitiva, é correta porque mostra que o problema é sério e que o governo espera uma resposta à altura.
Na opinião de Costa Júnior, mesmo com as declarações de indignação com a espionagem, a recepção de Dilma por Obama em outubro está mantida.
— Acredito que ela vai viajar. Esse jogo diplomático tem muita retórica agora. Ela vai ficar brava, porque isso foi grave, sobretudo porque envolveu uma chefe de Estado, e não se pode aceitar tudo. Essa retórica é muito válida na diplomacia, mas não é bem assim no mundo real.
O cientista político e professor de Relações Internacionais da ESPM Heni Ozi Cukier, por outro lado, não acredita que haja perdas com o cancelamento.
— A viagem representa bom relacionamento, boa convivência e aproximação. O cancelamento em si não tem nenhuma implicação maior, seria algo simbólico, para mostrar “estou irritada, as nossas relações não vão avançar conforme a gente achava”. Mas, do ponto de vista prático, o cancelamento tem resultado praticamente nulo. Os Estados Unidos não dependem do Brasil.
Pouco depois do cancelamento da comitiva, um assessor da Casa Branca disse que Obama deverá explicar pessoalmente a Dilma ”a natureza dos esforços de inteligência” dos EUA.
Obama e Dilma estarão em São Petersburgo, na Rússia, até sexta-feira (6) para a oitava reunião do G20. - Fonte: R7

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