Corpo do ex-deputado José Mendonça será enterrado em Belo Jardim

O corpo do ex-deputado José Mendonça Bezerra, pai do ex-governador de Pernambuco e atual deputado federal Mendonça Filho, será velado até a tarde desta segunda-feira (25) na Assembleia Legislativa do estado.

‘Mendonção’, como era carinhosamento conhecido, morreu ontem (24) no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, devido a problemas decorrentes de um tumo no intestino. Ele tinha 75 anos. Depois de ser velado na Assembleia, o corpo seguirá para Belo Jardim, cidade natal do ex-deputado, onde será velado e enterrado nesta terça (26). A família ainda não definiu o horário do sepultamento.

Abaixo segue o último discurso proferido pelo deputado José Mendonçaa na Câmara de Deputados, no dia 15 de dezembro de 2010 :

Senhor presidente, senhoras e senhores deputados,

Ao iniciar meu último pronunciamento nesta casa, quero prestar duas homenagens da maior justiça. a primeira, ao povo de pernambuco, que me honrou com três mandatos de deputado estadual e oito mandatos de deputado federal.

A segunda dirijo a minha família, na pessoa de minha esposa Estefânia, companheira de todas as horas, mulher firme e determinada, que com mãos fortes e coração sensível conduziu o processo de educação e formação dos nossos filhos.

Como todos sabem, após oito mandatos como deputado, decidi, este ano, não disputar a reeleição. foi uma decisão amadurecida, tomada com a consciência tranquila! tenho certeza de que o meu tempo nesta casa foi dedicado ao brasil, a pernambuco e em particular aos municípios que compõem minha base política, no agreste do meu estado.

Comecei minha vida pública em 66, como deputado estadual, no início do regime militar. Na Assembleia Legislativa de Pernambuco, cultivei sempre a convivência respeitosa com homens públicos de todas as facções políticas. Criei laços de amizade com grandes líderes, que na época combatiam em campos políticos opostos, como Marco Maciel, Jarbas Vasconcelos, Egídio Ferreira Lima e Miguel Arraes. Fiz da lealdade e da coerência marcas da minha prática política.

Após três mandatos como deputado estadual, decidi trilhar novos caminhos e disputei um mandato para a câmara dos deputados, contando mais uma vez com a confiança e o apoio do bravo povo da minha terra.

Cheguei nesta casa em 79, quando o Brasil se achava em pleno processo de abertura; a lei da anistia havia sido sancionada pelo presidente Figueiredo e o pluripartidarismo estava de volta. Surgiam novos partidos como o PT, do presidente Lula e o PDT, de Leonel Brizola.

Os anos que se seguiram foram de verdadeira efervescência política e eu acompanhava tudo, ora como expectador privilegiado, ora como protagonista responsável. Em 1984 tivemos o movimento pelas “diretas já”, que mesmo mobilizando grandes multidões em defesa da emenda dante de oliveira, foi derrotada nesta Casa. No ano seguinte reuniu-se o colégio eleitoral para mais uma vez eleger, indiretamente, o novo presidente do Brasil, aquele que conduziria o país à sua plenitude democrática.

Aquele, sr. presidente, foi um momento ímpar na vida pública brasileira. A classe política mostrou toda a sua capacidade de encontrar soluções e de superar diferenças. Adversários tradicionais, numa aliança política nunca imaginada, uniram-se pelo bem do Brasil e encontraram, no próprio colégio eleitoral, a chave para a conciliação nacional e para o fortalecimento da democracia.

Como um dos dissidentes do PDS, tive o privilégio de participar ativamente daquele processo. Ao lado de grandes líderes como Marco Maciel, Aureliano Chaves, Antônio Carlos Magalhães e muitos outros, pude contribuir para a eleição de Tancredo Neves, que mesmo sem ter tomado posse como presidente, cumpriu o seu papel histórico e viabilizou a consolidação do processo democrático tão desejado pelo povo.

Aquela, senhor presidente, foi a única vez em que mudei de partido. Em minha terra aprendi com o governador Paulo Guerra que o político deve ter lado. Procurei sempre seguir esta norma, tanto que em 86 recusei um convite de Miguel Arraes para ser candidato ao Senado na chapa encabeçada por ele ao Governo do Estado. Recusei, mesmo consciente das grandes possibilidades de vitória, porque eu e Arraes, embora amigos, estávamos em lados opostos.

Três anos depois, mais precisamente em 88, investidos de poder constituinte, promulgamos a nova constituição brasileira, um dos sinais mais evidentes de que estávamos começando a viver a plenitude democrática. Participar daquela obra foi um dos momentos mais ricos da minha vida parlamentar.

Agora, finalmente, me curvo à sabedoria da bíblia quando afirma que, na vida, há tempo para tudo! tempo de chegar e tempo de partir! depois de 32 anos de convivência nesta Casa, chegou o meu tempo de partir! aqui, como acabei de relembrar, vivi intensamente os acontecimentos que marcaram nossa história nas últimas décadas. Aqui, convivi com homens públicos exemplares como Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Afonso Arinos, Delfim Neto, entre tantos que nos fazem ter orgulho da atividade parlamentar.

Durante todos estes anos procurei pautar minha conduta pelos princípios morais que aprendi dos meus pais, Tereza e joão, pessoas simples, de poucas posses, mas ricas de sabedoria e de virtudes, que souberam plantar em meu caráter a humildade, a dignidade, o amor ao trabalho e o apego a família. Deixo esta Casa sem jamais ter me envolvido em escândalos ou coisas semelhantes; sem jamais ter exposto os meus pares ao constrangimento e à vergonha.

Aqui lutei pela minha gente. Procurei cultivar amizades, defender com transparência e com ardor as minhas ideias e os meus princípios; representar condignamente o meu estado, Pernambuco, o Leão do Norte; Pernambuco de Frei Caneca e Joaquim Nabuco, precursores das lutas libertárias pela independência da pátria.

Agora faço a viagem de volta para a província, para o meu estado e para o meu agreste. Volto com o coração repleto de gratidão primeiramente a Deus, que sempre foi bom e generoso para comigo.

Um dos exemplos desta bondade foi ele ter colocado na minha vida uma mulher de fibra, inteligente e corajosa, com quem sou casado há 47 anos: Estefânia Bezerra. Diz o provérbio popular que ao lado de um grande homem tem sempre uma grande mulher. Não tenho a ousadia pretensiosa de dizer que sou um grande homem, mas afirmar que fana é uma grande mulher é a mais absoluta verdade.

Da nossa união nasceram seis filhos: Mendonça filho, Andréa, Isabela, Carla, Danilo e Pedro, os quais procuramos educar dentro dos princípios da moral e da ética, além de oferecer-lhes educação formal de qualidade, tendo inclusive proporcionado a cada um a oportunidade de estudar fora do país.

Dos seis filhos que temos, um herdou, do pai, o gosto pela política: José Mendonça bezerra filho! alguns dos senhores já o conhecem por ter passado por esta Casa no período de 95/98 e de ter sido o autor da emenda que permite a reeleição do presidente da república.

E eis aí mais um motivo da minha gratidão a Deus: saio desta Casa, mas serei substituído por um filho, um político jovem e preparado, que em 24 anos de vida pública já ocupou cargos da maior importância como deputado estadual, deputado federal, secretário de estado, vice-governador e governador de Pernambuco. Tenho certeza de que ele fará um grande trabalho nesta Casa, e com isto encherá meu coração de alegria e de orgulho.

Também aqui ficará meu genro, Augusto Coutinho, que depois de uma carreira brilhante como vereador do Recife, secretário municipal e deputado estadual, representará o nosso partido e o nosso estado, e fará do congresso nacional sua nova trincheira de lutas.

Saibam os senhores que deixo esta Casa com o peito carregado de saudade. Saudade de tudo que aqui vivi, de todos com quem convivi, saudade que vou cultivar como forma de estar sempre perto dos amigos que construí nesta Casa e nesta cidade.

Encerro o mandato, mas continuarei fazendo política no dia-a-dia. Deixo o parlamento mas não deixo a vida pública, pois ela é uma das razões de minha vida. Concluo este pronunciamento agradecendo a Deus, à família e a todos os colegas que partilharam comigo esta importante fase da minha vida. A todos o meu muito obrigado, e que Deus salve o Brasil!

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